Rubem Braga

AO ESPELHO

 

Tu, que não foste belo nem perfeito,
Ora te vejo (e tu me vês) com tédio
E vã melancolia, contrafeito,
Como um remédio sem um condenado.

 

 

Evitas meu olhar inquiridor
Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos,
Porque já te falece algum valor
Para Enfrentar o tédio dos espelhos.

 

 

Ontem bebeste em demasia, certo,
Mas convenhamos não foi, a primeira
Nem a milésima vez que hás bebido.

 

 

Volta portanto a cara, vê de perto
A cara, tua cara verdadeira,
Oh Braga envelhecido, envilecido.

 

SONETO


E quando nós Saímos era a Lua,
Era o vento caído e o amr Sereno
Anoitecendo Azul e cinza-azul
A tarde ruiva das amendoeiras.

 

 

E respiramos, livres das ardências
Do sol, que nos Levará à sombra cauta
Das cigarras pelo Tangidos Canto
Dentro e fora de nós exasperadas.

 

 

Andamos em silêncio pela praia.
Nos corpos leves e lavados ia
O sentimento do prazer cumprido.

 

 

Se despedida mágoa me ficou na
Não fez nem mal que ficasse doesse, --
Era bem doce, perto das antigas.

 

 

"Há um grande vento frio cavalgando as ondas, mas o céu está limpo e o sol muito claro. Duas aves dançam sobre as espumas assanhadas. As cigarras não cantam mais. Talvez tenha acabado o verão..."